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Famílias quilombolas preparam alimentos com economia e sustentabilidade no Sertão de Pernambuco

Famílias quilombolas preparam alimentos com economia e sustentabilidade no Sertão de Pernambuco
Em poucos meses, a implantação de biodigestores em três comunidades tradicionais atendidas pelo Projeto Recupera Caatinga já trouxe bons resultados

No contexto da convivência com o Semiárido aparecem as tecnologias sociais que cumprem um papel importante na vida de milhares de famílias rurais, especialmente no cotidiano das mulheres, que em grande parte, se dedica aos afazeres domésticos. E nessa perspectiva, o Projeto Recupera Caatinga, que conta com o patrocínio da Petrobras, entregou nove biodigestores nas comunidades quilombolas de Jatobá II, município de Cabrobó, e Cupira e Inhanhum, na cidade de Santa Maria da Boa Vista, sendo três em cada uma delas.

Os biodigestores aproveitam os dejetos animais para a produção de biogás, evitando a degradação de matéria orgânica animal e liberação de metano, um gás de efeito estufa, na atmosfera. Para Maria Ozeilde, moradora de Jatobá II, a tecnologia foi importante porque contribuiu com a questão ambiental e impactou na renda familiar. “O biodigestor foi algo nunca imaginado nessa comunidade, pois não tínhamos conhecimento de uma tecnologia que transformava esterco bovino em gás. Estamos conseguindo economizar ao final de cada mês. Além disso, o gás produzido é limpo e sustentável”, destaca.

Durante um período de seis meses, as tecnologias foram implantadas por pedreiros das localidades que participaram das capacitações promovidas pelo projeto, para aprender sobre as etapas do processo de construção e gestão do biodigestor. As formações envolveram ainda as famílias beneficiárias. O morador de Inhanhum, Rogério Torquato, se considera contemplado duplamente, uma vez que participou do curso e também foi beneficiado. “O biodigestor para mim foi a realização de um dos meus objetivos. Apareceu na comunidade a oportunidade de aprender a construir e também de receber a tecnologia. Então além da produção do gás, agora temos o biofertilizante para adubar as plantas e as hortaliças do meu quintal”, revela.

Outro dado importante é que os biodigestores implantados nos três quilombos possibilitaram inclusive ampliar e incrementar o cardápio familiar. “Passamos a fazer bolos com mais freqüência sem aquele receio do gás acabar durante o cozimento. A nossa única preocupação é fazer o aproveitamento do esterco que temos disponível na comunidade e abastecer o biodigestor. Cada vez que faço isso, já imagino a quantidade de gás que vamos conseguir produzir”, complementa Rogério.

Após a implantação nas comunidades foi observado o aumento da visitação de pessoas com o desejo de acompanhar o funcionamento do biodigestor, nesse sentido, a expectativa do projeto é também desenvolver parcerias locais no sentido de expandir a ação para outras famílias.

Etapas da construção participativa

O biodigestor é uma tecnologia social que gera gás através de uma fermentação produzida pelos microrganismos existentes no esterco bovino, caprino ou suíno, portanto favorece a conscientização ambiental coletiva. O armazenamento ocorre em uma caixa de polietileno (PVC), que após a primeira carga de esterco, deve ser abastecido semanalmente. Num primeiro momento são confeccionadas 56 placas de cimento pré-moldado para construção do tanque grande de alvenaria que recebe os dejetos de origem animal para geração de gás. Em seguida é colocado um arame em volta do tanque como suporte de segurança do biodigestor. Além disso, são construídos mais dois tanques pequenos com funções diferentes. O primeiro tanque é para receber o esterco fresco e o segundo é para receber o esterco curtido, ou seja, que já passou pelo processo de fermentação.

Além da função de sustentar, as linhas de sustentação têm a função de centralizar a caixa que fica em cima do tanque grande. E por fim, são instalados os filtros e realizada a encanação até a cozinha da família beneficiada. Após abastecer com o esterco, a família aguarda um período de 27 dias, que corresponde ao tempo necessário para fermentação e produção do gás utilizado na cozinha.

Projeto Recupera Caatinga

O Projeto Recupera Caatinga é uma realização do Centro de Habilitação e Apoio ao Pequeno Agricultor do Araripe (Chapada), com patrocínio da Petrobras por meio do programa Petrobras Socioambiental. A iniciativa beneficia diretamente 270 famílias quilombolas, incluindo crianças, jovens, mulheres e adultos.

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